sábado, 8 de dezembro de 2018

Livre não é o seguidor de Mariane

Originalmente, uma redação de no máximo 30 linhas refletindo sobre a propaganda da calça Us Top.

Todo homem, necessariamente, quer ser livre. Sempre o quer exatamente por querer, enquanto a liberdade for "expressão da vontade humana". Se desse fado não há como fugir, então o fundamento da liberdade parece ser seu oposto, a necessidade. Mas como esses dois princípios conversam? E como coordenar a liberdade do eu com as liberdades dos outros?

O homem tem diante de si um mistério: a sua vontade livre. Ele sabe que quer algo, inegavelmente. Ele vê que pode ou não se mover para o que o atrai (ou mesmo ao que não o atrai). Fundamentalmente, todo homem reconhece diante de si um poder de escolher. Se esse poder não lhe é cerceado, ele se entende livre. Pode-se dizer, para fins práticos, que o homem se sente livre quando a sua vontade cruza o limiar do seu mundo interior.

Todavia, a liberdade se choca com um outro fenômeno, seu complementar, a necessidade. Há coisas que não são possíveis, apesar dos anseios da vontade. Há também uma "responsabilidade do indivíduo por suas ações", ou em termos mais claros e precisos, tão técnicos quanto populares, existem consequências. Há um limite intransponível na necessidade, mas é essa fronteira que define a liberdade: quando não há o necessário, há o possível, e daí a escolha. Liberdade e necessidade aparecem entrelaçadas como princípios fundamentais.

Quando os homens se virem uns aos outros, um novo limite parece se insurgir. A liberdade do outro surge como o fim da minha. Ao se organizarem em sociedade, os homens encontrarão o problema de como sustentar as múltiplas liberdades. De boa vontade, descobrirão ser necessário não impor necessidades desnecessárias, mas como para que cada um seja livre é preciso respeitar um necessário limite. A sociedade livre regulará as relações para que nelas todos os envolvidos mantenham a si e aos outros livres.

Diante da síntese rascunhada acima, é possível ousar fugir um pouco do senso comum e dizer que a liberdade não é "uma calça [...] que você pode usar do jeito que quiser", porque para que a sociedade sobreviva livre não é possível "fazer o que quiser", mas é necessário escolher pelo que convém à manutenção da mesma liberdade. Como, por exemplo, terminar aqui nas 30 linhas...

Nenhum comentário: