sábado, 8 de dezembro de 2018

Educação: Treinamento ou Formação

Nada se cria, tudo se copia; e depois cola. Uma crítica comum hoje à educação é quanto ao modo como são feitos os trabalhos escolares. Depois do advento da Internet, tornou-se prática corriqueira procurar por resultados prontos para o requerido pela proposta do trabalho e copiar textos inteiros, talvez sem sequer lê-los, apenas submetendo-os a outra formatação, quando muito. Vendo aí um problema, busca-se um culpado. Os primeiros candidatos são o aluno imoral e o professor incapaz. A quem atribuir a causa dessa distorção?

A culpa não é dos alunos. A criança de dez anos que já copia o seu trabalho escolar de um site vai crescer repetindo essa prática sem sequer suspeitar que possa ser errada. O aluno não é um preguiçoso imoral, mas em alienado amoral. Para muitos alunos, o que se espera é um texto que aborde um determinado assunto e o seu papel seria localizar esse texto e apresentá-lo. Essa postura costuma ser aprendida nos primeiros anos de escola, já era ensinada mesmo antes da popularização da Internet, quando se passam os "questionários" com listas de perguntas cujas respostas deveriam ser localizadas em um livro-texto e transcritas, a fim de memorizá-las e reproduzi-las, possivelmente na semana seguinte, na prova. O aluno foi formado desde a base a localizar, memorizar e reproduzir, não julgar, processar ou assimilar.

A culpa não é do professor, tampouco. O professor de hoje reproduz os métodos de ontem. Os métodos não mudaram, porque inevitavelmente fazem referência ao passado. O professor de hoje é vítima de dois inimigos: ele é o aluno de ontem, ensinado a localizar, memorizar e reproduzir, e por isso pode tender à incapacidade de se adaptar a realidades distintas, isto se não só conservar a mesma "amoralidade"; ainda, a sociedade dos alunos de ontem vai cobrar dele e dos seus alunos que localizem, memorizem e reproduzam, algo fora disso é absolutamente carente de sentido.

A culpa é tão da Internet quanto dos livros. Seu crime é veicular conhecimento, seu pecado, a eficácia. A culpa é da falência de um modelo educacional pragmático, técnico. Não é coerente falar da moralidade em uma instituição que não visa a formação de pessoas e aquisição de uma excelência humana. A escola que se curvou à exigências pragmáticas paga o preço de suas escolhas e cobra taxas a todo o que a ela se reportar. O pragmatismo vendeu a ideia de que o importante é adquirir um conjunto de habilidades tais que permitam atingir os fins desejados. Sem se preocupar em expandir os horizontes, os fins são os mais imediatos possíveis. Ao fim do processo, uma prova verificaria a aquisição das habilidades desejadas, mas uma inversão ocorreu quando logo se viu que para encerrar o processo, basta dominar a habilidade de fazer a prova e obter um valor mínimo. Desde então, o que dita o conteúdo é aprova, importa estudar, ou memorizar, o que "cai na prova", parcela do conteúdo total, que passou a ser definido em função do que "cai no vestibular". À luz disso tudo, por que fazer mais do que copiar a resposta? Alcançá-la é o fim e o melhor meio é o mais curto.

Vê-se que é à "mentalidade pragmática" que se deve atribuir a culpa. O aluno e o professor são meras peças de uma máquina que se move para se mover. O problema desse sistema educacional é que ele é fadado à falência, e, uma fez falido, ele não tem razão de ser. Mas, para chegar a tanto; é preciso se extravia a esse ritmo vicioso. E, para resolver o problema, é preciso mudar as bases e, talvez, saber abdicar das ferramentas já marcadas em favor de outras, novas ou velhas, eficazes hoje. A identificação delas, no entanto, exige mais que localização, memorização e reprodução, estão além desse horizonte.

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