sábado, 8 de dezembro de 2018

Discurso cultural para uma cultura discursiva

O discurso de ódio é um conceito subjetivo cultural. Subjetivo porque carece de uma definição clara e, portanto, é aplicado de maneiras diferentes por pessoas diferentes. Cultural porque é ele mesmo consequência de uma série de aspectos arraigados ao poco; já ele parece também fixar raízes. Seu impacto é claro, embora nem sempre devidamente catalogado, discórdia, superficialidade, alienação; sua arena mais cativa tem sido as redes sociais.

Seria razoável exigir saber o que é discurso de ódio. Parece mais uma expressão esvaziada de sentido para servir pela força retórica. Como medir o ódio num discurso? Parece tendência agrupar sob esse mesmo rótulo ameaças de origem ideológica e opiniões dissonantes. Também, evocar seu poder de fundo emocional para condenar com crivo de atitudes a pensamentos. Discurso de ódio é uma expressão fechada usada como arma para condenar os adversários sem julgamento perante o júri.

O problema do discurso de ódio é um aspecto do grande problema cultural, filho bastardo das crises da família e da educação. Um povo habituado ao sentimentalismo e cujo ápice reflexivo se dá nas soluções miraculosas e pontuais dos colóquios de barbearia e botequim toma posse da praxe de participar com a sua curtida opinião. Outros aspectos que acusam a origem comum são o pouco investimento em pesquisa científica ou a incapacidade da literatura nacional em atender à sua pequena demanda.

Ao precedente, some-se a inclusão digital; outra expressão de sentido duvidoso, aliás. A mesma porta pela qual passa o número exponencial de "fotógrafos" para cercar qualquer momento minimamente interessante a fim de erguer uma barreira humana que impeça de ver sem ser por suas lentes sem foco é aquela que se cruza para compor redações de repúdio gratuito. A rede social não é causadora, mas catalisadora. Veio para dar espaço e ocasião dessa cultura ferida se expressar. O grafo virtual delas vem para unir e os filhos do povo reivindicam o poder de separar, degenerando-se em células ideológicas.

Como, contudo, resolver um problema que não se conhece sem ir àquele que lhe dá sustentação? Uma resposta para essa pergunta mereceria destaque. Até lá, se lá se há de chegar, é preciso um movimento de contra cultura. É preciso trabalhar pela educação, doméstica e formal. Os agentes dessa tarefa devem ser todos os que se fazem conscientes do problema e da necessidade estrategicamente unidos. Cada um deve deixar de exigir e reclamar e medir suas atitudes, escrever livros e compartilhar a mídia de nova cultura.

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